Curta e Siga


Influência da aptidão aeróbia sobre a adiposidade total e de tronco em adolescentes





Olá! Tudo bem? Sou a Dani e esse post fala sobre Influência da aptidão aeróbia sobre a adiposidade total e de tronco em adolescentes.





    A obesidade tem apresentado um grande aumento em sua prevalência nos últimos anos em todo o mundo. Atualmente, estima-se que mais de 115 milhões de pessoas sofram de problemas relacionados à obesidade, nos países em desenvolvimento (WHO, 2004). Somente no Brasil, estudos atuais apontam que 12,4% dos homens e 24,5% das mulheres acima de 15 anos são obesos (WHO, 2010).

    Entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, a prevalência de sobrepeso aumentou significativamente, sendo que passou de 3,7% (1974-75) para 21,7% (2008-09) entre os meninos, e de 7,6% para 19,4% entre as meninas (IBGE 2010).
    Juntamente com aumento de prevalência da obesidade, verificou-se uma diminuição dos níveis de atividade física e aptidão aeróbia além de uma maior incidência de doenças cardiovasculares em toda população (BRASIL, 2004; MONTEIRO, 2000; BOUCHARD, 2000). Por outro lado, estudos internacionais apontam que melhores níveis de aptidão cardiorrespiratória estão relacionados inversamente com o risco cardiovascular, servindo como fator protetor ao aparecimento dessas doenças (TWISK; KEMPER; VAN MECHELEN, 2002; LEFEVRE et al, 2002). Nesse sentido, o objetivo do estudo foi analisar a influência da aptidão aeróbia sobre a adiposidade total e de tronco em adolescentes participantes de um programa multiprofissional de tratamento da obesidade.
Metodologia
População e amostra
    Estudo descritivo transversal composto por uma amostra de 23 adolescentes obesos, de ambos os sexos, que estavam ingressando em um Programa Multiprofissional de Tratamento da Obesidade (PMTO). Os critérios de inclusão para o estudo foram: apresentar idade entre 11 e 18 anos, não apresentarem doenças, lesões ou limitações que impossibilitem a realização de todos os testes e medidas, ser obeso ou apresentar sobrepeso segundo os critérios propostos por Cole et al (2000) e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais e responsáveis. Todos os procedimentos utilizados nesta pesquisa seguiram as regulamentações exigidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Onde foi aprovado pelo comitê permanente de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Estadual de Maringá (COPEP), conforme o parecer nº 463/2009.
Avaliação antropométrica
    Para a avaliação antropométrica foi utilizado o peso, estatura, índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC), circunferência abdominal (CA), circunferência do quadril (CQ), relação Cintura/Quadril (RCQ) e as pregas cutâneas tricipital, escapular e suprailíca. Sendo que todas essas avaliações foram mensuradas por um único avaliador.
    Para aferição do peso corporal e da estatura foi usado uma balança digital da marca Welmy com 0.05 kg de precisão e capacidade máxima de 300 Kg, e um estadiômetro acoplado a ela com precisão de 0,1 cm. A partir destas medidas foi possível calcular o IMC através da fórmula: Peso/(altura*altura). Para a classificação do IMC (eutrófico, sobrepeso e obesidade) foi utilizado os critérios de Cole et al (2000).
    As medidas de circunferências foram mensuradas por meio de uma fita não-extensiva da marca Wiso de 2 metros de comprimento e com divisões em milímetros. Para isso, utiliza-se o maior perímetro abdominal, entre a última costela e a crista ilíaca para mensurar a CC, já para CA, utilizou-se a cicatriz umbilical e para aferir a circunferência do quadril utilizou-se o nível dos trocânteres femurais. A partir das medidas da cintura e do quadril foi possível calcular o RCQ (Razão Cintura-Quadril): divisão da cintura pelo quadril.
    Para avaliação das pregas cutâneas foi utilizado o compasso da marca Cescorf. O examinador realizou um mínimo de 2 ou 3 mensurações numa ordem de rodízio em cada avaliado, sendo que foi estabelecido o hemicorpo direito para as avaliações. Foram mensuradas: a prega referente ao ponto médio entre a borda súpero-lateral do acrômio e a borda inferior do olecrano, na face posterior do braço (Prega Tricipital); dobra oblíqua ao eixo longitudinal do corpo, seguindo a orientação dos arcos costais, dois centímetros abaixo do ângulo inferior da escápula (Prega Subescapular) e a dobra cutânea referente medida três centímetros acima da crista-ilíca na linha axilar anterior (Prega Suprailíaca). O cálculo da porcentagem de gordura foi esse método foi feita por meio das equações abaixo proposto por Slaughter et al., (1988) para crianças e adolescentes.
Avaliação da aptidão aeróbia
    O cálculo de VO2 máx. foi feito por meio dos resultados do teste “suttle run 20m”, validado no Brasil por Duarte e Duarte (2001). O teste foi aplicado em grupos de 5 a 8 pessoas, que deveriam percorrer juntas, num ritmo cadenciado pelo programa de computador específico para o teste, uma distância de 20 metros. O programa emite bips, em intervalos específicos de cada estágio, sendo que a cada sinal sonoro o avaliado deve estar cruzando com um dos pés uma das linhas de delimitação dos 20 metros. No software, são sinalizados os finais de cada estágio com dois bips consecutivos, a duração de cada estágio é de 1 minuto e o avaliador comunicava em voz alta o número do estágio concluído. A duração do teste depende da capacidade cardiorrespiratória dos avaliados, acontecendo de maneira progressiva, com uma velocidade inicial de 8,5km/h e aumento de 0,5 km/h em cada estágio, perfazendo um total possível de 21 minutos e uma velocidade de 17,5 km/h. Foi utilizada a fórmula proposta por Guedes e Guedes (1997) para cálculo de VO2 máx.: 31,035 + (Veloc. Estágio x 3,238) – (idade do indivíduo x 3,248) + (idade do indivíduo x velocidade do estágio x 0,1536).
Avaliação da composição corporal
    Para avaliação da composição corporal, foi utilizado pelo bioimpedânciometro multifrequencial da marca In Body, modelo 520. Foram mensuradas a massa e porcentagem de gordura corporal, massa livre de gordura e massa magra.
Análise estatística
    Os dados foram tabulados no software Microsoft Excel 2007 e analisados no pacote estatístico SPSS – versão 13. Foi aplicado teste de Shapiro-Wilk a fim de verificar a normalidade dos dados apresentados. Para a realização dos cálculos estatísticos inferenciais os valores de aptidão cardiorrespiratória foram classificados em dois grupos: não aptos e aptos, adotando o percentil 50 na divisão dos grupos. As diferenças entre os dois grupos foram identificadas pelo teste “t” de Student independente. Ainda foi realizado o teste de correlação de Pearson na verificação de associação entre as variáveis. O nível de significância adotado neste estudo foi de p<0,05.
Resultados e discussão
    Participaram do estudo 23 adolescentes obesos de ambos os sexos, sendo 11 do sexo feminino e 12 do sexo masculino, com idades entre 12 e 17 anos. Das 11 adolescentes, 6 foram classificadas como aptas e 5 como não aptas. Já dos 12 adolescentes, 7 eram aptos e 5 não aptos. A partir desse dado podemos observar que o gênero do participante não interferiu na aptidão variável aptidão aeróbia.
    A tabela 1 apresenta as características antropométricas dos sujeitos estratificado pela aptidão cardiorrespiratória, além do resultado do teste t de Student. Pode-se observar que a altura, a idade e a RCQ não tiveram diferenças significativas, sendo que o grupo dos aptos apresentou valores médios mais altos em comparação aos não aptos. Porém, na RCQ, o grupo não apto apresentou maior medida. Em relação às outras variáveis antropométricas como peso IMC, CC, CA e CQ os grupos apresentaram diferenças significativas.
    No estudo de Ortega et al., (2008), em crianças e adolescentes, também foi observado que uma alta aptidão cardiorrespiratória está inversamente associada à circunferência da cintura. Esse mesmo resultado foi encontrado em estudo com adolescentes em Caxias do Sul, em que elevadas circunferência da cintura e porcentagem de gordura foram associadas com baixa aptidão cardiorrespiratória (VASQUES, 2008).
    A circunferência da cintura elevada pode indicar acúmulo excessivo de gordura na região abdominal, o que eleva o risco do aparecimento de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes mellitus,entre outras disfunções metabólicas (ACSM, 2006).
    Em relação ao IMC, os resultados vão de acordo com os achados de Ronque et al (2010), em que adolescentes do sexo masculino com baixa aptidão cardiorrespiratória apresentam medianas superiores da variável em relação aos que apresentaram alta aptidão cardiorrespiratória.
    Estudo de Janssen et al (2005) com adolescentes obesos verificou que há uma intensa relação entre IMC e relação cintura-quadril com a síndrome metabólica. Adolescentes com IMC acima da faixa recomendada apresentaram maiores níveis de triglicerídeos, pressão arterial, baixos níveis de HDL - colesterol, que são fatores determinantes dessa síndrome. Nesse sentido uma alta aptidão cardiorrespiratória pode servir um fator protetor para desenvolvimento dessas doenças.
    A tabela 2 apresenta as características das dobras cutâneas e percentual de gordura da amostra estratificada pela aptidão cardiorrespiratória. Nesta tabela a média do VO2 máximo foi de 30,99 (± 6,37) kg/ml/min e 22,49 (± 1,43) ml/kg/min, respectivamente no grupo dos aptos e dos não aptos, com diferenças significativas em quase todas as variáveis apresentadas.
    Verificamos que um nível de aptidão cardiorrespiratória elevada parece influenciar na adiposidade central e total dos adolescentes. Estes mesmos achados foram encontradas em estudos de Ross e Katzmarzyk (2003) com indivíduos adultos com idades entre 20 a 50 anos. Assim como, em estudos de Nassis et al (2005), Ronque et al. (2010) e Pinero et al (2009).
    A tabela 3 mostra as características da amostra pela bioimpedância estratifica pela aptidão cardiorrespiratória onde houve diferença significativa entre os grupos apenas na variável porcentagem de gordura pela bioimpedância multifrequencial, com média de 35,91% no grupo apto e 45,82% no grupo não apto. Em relação às variáveis massa livre de gordura (MLG) e massa magra (MM) os grupos não apresentaram diferenças significativas, no entanto podemos observar que nas duas variáveis o grupo apto apresentaram médias superiores.
Figura 1. Gráficos de correlação de Pearson
    A figura 1 são apresentados valores de correlação de VO2 relativo (ml/kg/min) com as variáveis porcentagem de gordura pelas dobras cutâneas, porcentagem de gordura pela bioimpedância, massa livre de gordura (kg) e IMC. No gráfico A podemos verificar que a correlação entre o VO2 e percentual de gordura foi fraca e negativa (r= -0,217). Os valores obtidos foram inferiores aos encontrados por Ronque et al., (2010), que encontrou uma correlação moderada e negativa tanto nos moços (r= -0,480) quanto nas moças (r= -0,472).
    No gráfico B observou-se uma correlação moderada e positiva (r=0,430) das variáveis VO2 e percentual de gordura avaliada pela bioimpedância. Enquanto que no gráfico C foi encontrada uma correlação forte e negativa (r= -0,827) entre variáveis VO2 e Massa Livre de Gordura, avaliadas pelo mesmo método.
    O gráfico D demonstra uma correlação moderada e negativa (r= -0,510) entre as variáveis Índice de Massa Corporal e aptidão cardiorrespiratória. O valor de r encontrado foi superior aos obtidos por outros estudos. Nassis et al (2006), encontrou r de -0,27 correlacionado as mesmas variáveis e Ronque et al (2010) encontrou r= - 0,378 para os rapazes e r= - 0,101 para moças.
    O estudo possui algumas limitações tais como o pequeno tamanho amostral, devido ao número de participantes que estavam no Programa de Tratamento Multiprofissional e o método para avaliação da aptidão aeróbia ser indireto. No entanto, os resultados obtidos no estudo foram de acordo com outros encontrados na literatura e apontam para importância da aptidão cardiorrespiratória como componente fundamental na prevenção de doenças cardiovasculares.
Considerações finais
    A partir do presente estudo pode-se concluir que adolescentes obesos com um nível elevado de aptidão cardiorrespiratória apresentam melhores indicadores de composição corporal quando comparados com seus pares não aptos. Nesse sentido, a melhora da condição cardiorrespiratória é um importante fator a ser priorizado no tratamento e na prevenção de fatores de risco cardiovascular em adolescentes obesos.
Referências
  • AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Manual do ACSM para avaliação da aptidão física relacionada à saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
  • BLAIR SN, CHURCH TS. The fitness, obesity, and health equation: is physical activity the common denominator? JAMA. 2004; 292: 1232-4.
  • BOUCHARD, C. Physical activity and obesity. Champaign, IL: Human Kinetics, 2000
  • BRASIL. Portaria nº 2607, de 13 de dezembro de 2004. Aprova Plano Nacional de Saúde/PNS – Um impacto pela Saúde no Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 dez. 2004.
  • COLE, T. J et al. Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey. BMJ, v.320, p.1-6, 2000.
  • DUARTE, M. F. S. e DUARTE, C.R. Validade do teste aeróbico de corrida de vai-e-vem de 20 metros, Rev. Bras. Ciên. e Mov. 9 (3): 07-14, 2001.
  • FREEDMAN DS, SERDULA MK, SRINIVASAN SR, BERENSON G. Relation of circumferences and skinfold thickness to lipid and insulin concentrations in children: The Bogalusa Heart Study. Am J Clin Nutr. 1999;69:308-17.
  • GUEDES, D.P.; GUEDES, JE.R.P. Controle do Peso Corporal: Composição Corporal, atividade física e nutrição. 2.ed.Rio de Janeiro: Shape, 2003.
  • IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2009-2010: Análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e do estado nutricional no Brasil. IBGE, 2010.
  • JANSSEN, I. et al. Combined influence of Body Mass Index and Waist cincunference on coronary artery disease risk factors among children and adolescents. Pediatrics, v.115, n.6, p.1623- 630, 2005.
  • LEFEVRE J, PHILIPPAERTS R, DELVAUX K, THOMIS M, CLAESSENS AL, LYSENS R, et al. Relation between cardiovascular risk factors at adult age, and physical activity during youth and adulthood: the leuven longitudinal study on lifestyle, fitness and health. Int J Sports Med. 2002;23:32-8.
  • LOHMAN TG, ROCHE AF, MARTORELL R. Anthropometric standardization reference manual. Champaign:Human Kinetics; 1988.
  • MAFFEIS C, GREZZANI A, PIETROBELLI A, PROVERA S, TATÒ L. Does waist circumference predict fat gain in children? Int J Obes Relat Metab Disord 2001; 25:978-83.
  • MONTEIRO, C. A. Velhos e novos males da saúde no Brasil: A evolução do país e de suas doenças. São Paulo: Hucitec; Nupens/USP, p. 247-255, 2000.
  • NASSIS, G.P.; PSARRA, G.; SIDOSSIS, L.S. Central and total adiposity are lower in overweight and obese children with high cardiorespiratory fitness. European Journal of Clinical Nutrition (2005). 59, 137-141.
  • ORTEGA FB, RUIZ JR, HURTIG-WENNLÖF A, VICENTE-RODRIGUEZ G, RIZZO NS, CASTILLO MJ, et al. Cardiovascular fitness modifies the associations between physical activity and abdominal adiposity in children and adolescents: the European Youth Heart Study. Br J Sports Med. 2008 May 7.
  • PINHEIRO, A.P.; GIUGLIANO, E.R.J. Quem são as crianças que se sentem gordas apesar de terem peso adequado? Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v.82, n.3, p.232-5, 2006.
  • ROSS R & KATZMARZYK PT (2003): Cardiorespiratory fitness is associated with diminished total and abdominal obesity independent of body mass index. Int. J. Obes. Relat. Metab. Disord. 27, 204– 210.
  • RONQUE et al. Relação entre aptidão cardiorrespiratória e indicadores de adiposidade corporal em adolescentes. Rev Paul Pediatr 2010;28(3):296-302.
  • SLAUGHTER, M.H. et al. Skinfold equationns for estimation of body fatness in childdren and youth. Human Biology, v.60, p.709-723, 1988.
  • STEVENS J, CAI J, EVENSON KR, THOMAS R. Fitness and fatness as predictors of mortality from all causes and from cardiovascular disease in men and women in the Lipid Research Clinics study.Am J Epidemiol. 2002; 156: 832-41.
  • TWISK JWR, KEMPER HCG, VAN MECHELEN W. The relationship between physicalfitness and physical activity during adolescence and cardiovascular disease risk factors at adult age. The Amsterdam growth and health longitudinal study. Int J Sports Med. 2002;23:8-14.
  • VASQUES, D.G. Fatores de risco para doenças cardiovasculares em adolescentes de Caxias do Sul-RS, Brasil. Dissertação de mestrado. 2008.
  • WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global strategy on diet, physical activity and health Library Cataloguing-in-Publication Data, 2004.
  • WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO), 2010. Disponível em: http://apps.who.int/bmi/index.jsp (acesso em 15 de dezembro de 2010).


Espero que você tenha gostado da nossa abordagem.

Para finalizar, temos a indicação de um ebook direcionado para professores de Educaçao Física sobre Nutrição. Conheça o Saúde no Prato: guia para profissionais de Educação Física. Saiba mais aqui!

Se você quiser receber notícias sobre saúde em geral, entre nos grupos do Whatsapp e no grupo do Telegram.

Deixe seu comentário:

Nenhum comentário